O tempo voa. Sempre ouvi isto mas nunca levei tão a sério como agora.
Faz hoje 4 anos que fui ao hospital Beatriz Angelo, com um barrigão do tamanho do universo, ligaram-me ao CTG, não haviam contrações, mediram-me a tensão arterial com 3 aparelhos distintos e apontaram a mais normal na ficha, eu estava super assustada e (sim, nestas alturas por mais velhas e fortes que sejamos) só queria a minha mãe que estava comigo, disseram-me que estava tudo normal (que não estava) e mandaram-me para casa, repousar e voltar daí a 2 semanas.
Obviamente que a minha mãe não aceitou aquilo. Estamos a falar da filha mais velha dela e da primeira neta. Ligou para o colega que me seguiu toda a gravidez, explicou a situação, disse que tínhamos acabado de saír do hospital mas que havia qualquer coisa que não estava bem. A minha mãe tem 4 filhos, todos eles nascidos de cesariana. Para além disso, é médica, tem uma bola de cristal, daquelas que as mães especiais têm.
O meu médico disse para eu imediatamente ter com o (ironia) filho dele (que também é obstetra e ginecologista) que estava de banco em Santa Maria, que o ia avisar logo, para ele me ver. Eu conheço o filho dele desde miúda. Os nossos pais estudaram juntos e temos praticamente a mesma idade.
Assim que meti o pé no hospital senti um calafrio pela espinha acima e tive a sensação que não ia sair dali sozinha.
Fui observada, novamente ligada ao CTG, onde não haviam contrações mas a Matilde já estava sem crescer (estavamos de 38 semanas e 5 dias), mantinha-se sentada e por isso já há muito tempo que eu sabia que ia ser cesariana. A única coisa que eu queria era saber que a Matilde ia ficar bem.
Foi-me logo dito para ligar ao meu marido e avisar que já não saía dali. Tremi. Tive medo. Mas enguli em seco e bora lá conhecer a miúda.
O meu marido foi logo ter comigo, eu lá vesti a bela da bata e fui para um quarto sozinha com o CTG a apitar qnd eu me mexia. Estive toda a noite naquilo.
Acordei com o a voz do meu pai a falar com um colega e percebi que ia para o bloco daí a umas horas.
Não faço ideia de que horas eram. Só me entraram no quarto para me preparar para seguir para a sala. Anestesista, epidural (que foi a minha melhor amiga) e vamos a isso. Foi uma cesariana de risco porque fiz disparates demais na gravidez. Lembro-me de ouvir os médicos com medo de me abrir porque era possível que eu já não estivesse aqui. Mas a Matilde tinha de sair. E a minha mãe estava na sala de partos. Esperaram pela minha mãe para ver a neta nascer.
Ouvi a voz do meu obstetra lá ao fundo que me dizia para mexer os dedos se o estivesse a ouvir mas não fui capaz.
Adormeci e acordei quando a enfermeira me mostrou a minha filha. A minha Matilde. Era mínima. Nasceu com pouco mais de 40cm e 2.400kg +-. Carequinha, vermelhinha, sossegadinha.
Estive depois horas no recobro, sozinha, porque não tinha feito uma análise no último trimestre e tive de esperar. Nessas alturas passam-nos coisas pela cabeça "esqueceram-se de mim", "porque é que não vem aqui ninguém?", "onde está a minha filha?". A porta do hospital estava cheia de família, amigos meus, todos à espera de saber notícias nossas.
O meu marido diz que foram as horas mais longas que ele passou. Eu não tenho noção temporal. Mas dia 24 de Novembro de 2012, às 16h a Matilde nasceu. E fez de nós pessoas mais completas, mais fortes, ensinou-nos coisas que não pensei que uma criança fosse capaz de o fazer. Todos os dias aprendo com ela. Todos os dias, apesar de me apetecer às vezes virá-la ao contrário quando ela está com a birra, olho para ela e vejo que foi a melhor coisa que fizémos.
Faz amanhã 4 anos que me tornei numa pessoa com um coração fora do corpo. Que treme cada vez que ela cai. Que vai em socorro cada vez que ouve um "MÃAAAEEEE!"
Dou o melhor de mim, damos o melhor de nós, para que não lhe falte nada e, felizmente, como a internet é um mundo, um dia ela vai ler este post.
Apesar de rebelde, é a minha menina. E todos os dias lhe digo que a amo e agradeço toda a ajuda que temos.