Hóspede em casa? - capazes.pt
Li este artigo no capazes.pt e há muito tempo que não lia nada tão acertado. Achei por bem partilhar convosco (esperando que mais uma vez não me venha nenhuma ameça por mail sobre os direitos de autor)
O homem é um hóspede na sua própria casa?
O tema da divisão das tarefas domésticas é sempre um tema apetecível, num país onde a divisão entre casais é tão desequilibrada. As mulheres portuguesas dedicam mais do dobro do tempo do que os homens a tarefas domésticas e cuidado a familiares. A sobrecarga feminina é tão mais grave quanto maior é a participação destas no mercado de trabalho.
A propósito deste assunto, um amigo partilhou um diálogo que também eu senti necessidade de partilhar convosco. Trata-se da conversa entre dois homens sobre tarecos e esfregonas.
Um amigo vem a minha casa tomar café, sentamo-nos e conversamos, falando sobre a vida… “Vou num instante lavar os pratos que ficaram no lava-loiças”, digo-lhe.
Ele olha para mim como se lhe tivesse dito que vou construir uma nave espacial. Diz-me com admiração, mas um pouco perplexo: “Ainda bem que ajudas a tua mulher, quando eu o faço a minha mulher não elogia. Ainda na semana passada lavei o chão e nem um obrigada.”
Voltei a sentar-me com ele e expliquei-lhe que eu não ajudo a minha mulher.
Como regra, a minha mulher não necessita de ajuda, tem necessidade de um sócio. Eu sou um sócio em casa e por via desta sociedade as tarefas são divididas mas não se trata certamente de um apoio à casa. Eu não ajudo a minha mulher a limpar a casa porque eu também vivo aqui e é necessário que eu também limpe. Eu não ajudo a minha mulher a cozinhar porque eu também quero comer e é necessário que eu também cozinhe. Eu não ajudo a minha mulher a lavar os pratos depois da refeição porque eu também usei esses pratos. Eu não ajudo a minha mulher com os filhos porque também são meus filhos e a minha função é ser pai. Eu não ajudo a minha mulher a estender ou a dobrar a roupa, porque também é roupa minha e dos meus filhos. Eu não sou uma ajuda em casa, sou parte da casa. E no que diz respeito a elogiar, perguntei-lhe quando é que foi a última vez que, depois de ela acabar de limpar a casa, tratar da roupa, mudar os lençóis da cama, dar banho aos filhos, cozinhar, organizar, etc., lhe disseste obrigado? Mas um obrigado do tipo: wow!!! Mulher minha! És fantástica!!! Parece-te absurdo? Parece-te estranho? Quando tu, uma vez na vida, limpaste o chão, esperavas no mínimo um prémio de excelência com muita glória e relações públicas… Porquê? Nunca pensaste nisso, amigo? Talvez porque para ti é um dado adquirido que tudo seja tarefa dela? Talvez te tenhas habituado a que tudo isto seja feito sem que tu tenhas de mexer um dedo? Então elogia como tu querias ser elogiado, da mesma forma, com a mesma intensidade. Dá uma mão, comporta-te como um verdadeiro companheiro, não como um hóspede que só vem comer, dormir, tomar banho… Sente-te em casa. Na tua casa.
Texto traduzido por João Azevedo in, capazes.pt
Epá, mesmo na mouche! Vou só ali saudar quem escreveu isto.