Ora bem, nem sempre só de consumismo e música se fala neste blog.
Este blog, maioritariamente fala sobre a M., sobre as suas evoluções e sobre como cresce diariamente e como nós, família directa e amigos mais próximos, lidamos com as mudanças que "sofremos" com o facto da existência que é uma primeira filha/neta/sobrinha/filha-da-amiga.
Por isso mesmo, ponderei muito antes de escrever este post e faço-o expondo o meu coração de mãe e de filha.
A M., agora com 16 meses, está oficialmente curada.
Curada de quê, perguntam vocês que me lêem em silêncio e não nos conhecem. Pois... Por norma, e desde que ela nasceu, que não exponho o caso dela. Não que o esconda, pelo contrário, mas porque a tentei proteger ao máximo daqueles comentários de "coitadinha da menina" ou "tem alguma deficiência, com certeza". Como devem imaginar, uma mãe quando ouve estes comentários, tem de ter uma calma extra para não mandar com o ovo do bebé à cabeça da pessoa que o diz. E eu sou muito explosiva. Demasiado até. Mas a maternidade e a M. vieram acalmar-me.
Pois bem, a M. nasceu com uma luxação congénita da anca bilateral. Grande palavrão. Não é nada que, hoje em dia, infelizmente não esteja a começar a ser muito comum, basta passar um dia de manhã no Hospital D. Estefânia para comprovar. Felizmente para nós foi detectado quando ela tinha 2 dias de vida e foi logo encaminhado para a ortopedista do Santa Maria e posteriormente ainda fizémos uma breve visita ao Hospital Pediátrico de Coimbra e fomos finalmente parar ao Hospital D. Estefânia onde acabámos por "estacionar".
Basicamente em que consiste a LCA?
É a cabeça do fémur completamente fora da bacia e não encaixar. Ou, no caso da M., encaixar e saltar. Não vou descrever o procedimento todo dos 16 meses porque foi intenso. Foram aparelhos, gessos, idas ao bloco operatório, raios-x, ecografias, mais gessos, arnês, uma bem-dita operação, mais gessos. No entanto, só fomos bem encaminhados quando a M. já estava a dias de completar um ano de idade, depois de andarmos numa roda viva de médicos, exames, internamentos e por aí fora.
Depois da operação, a M. ainda esteve engessada mais 2 meses e após isso passou a usar um aparelho 24 horas por dia durante mais um mês. No dia de anos do pai dela (11/2), após mais uma ida à consulta de rotina e onde eu escrevi mais um post aqui , ela pode passar a usar o arnês apenas durante a noite, o que era um óptimo progresso, dado que no colégio ela já via os meninos a gatinhar e ela estava presa a um aparelho que só a permitia estar num puff.
Finalmente na 6a feira, depois de mais uma ida ao hospital para mais uma consulta e após ter esperado mais umas horas, pedi à ortopedista para lhe fazer um raio-x, porque o coração de mãe é fraco e tem sempre medo, espera sempre o pior e ela está a começar a andar. Quando veio o resultado sou surpreendida com um: "Está tudo óptimo. A evolução está muito boa, está praticamente no sítio e irá melhorar quando ela começar a andar pelo próprio pé."
Nesse momento senti que me tinham tirado de cima uma bigorna que eu andava a carregar há mais de um ano.
Não tenho qualquer outra expressão para o dizer. Uma bigorna como aquela dos desenhos animados.
"A M. tem alta do arnês e não precisa de o usar mais."
Apeteceu-me chorar. E acho que só não o fiz porque fiquei abananada e porque eu sou eu e estava à espera de ouvir, as usual, qualquer coisa como "ela ainda vai ter mais uns meses disto".
Por isso, SIM, A M. ESTÁ CURADA! Porque depois de tudo o que nós/ela passamos também merecemos.
Escrevo este post porque foi mais de um ano em que protegi a minha filha, apesar de a proteger, claro, mas sei que não há muita informação sobre isso. Porque quando nós, mães, temos a notícia de que a nossa filha (normalmente são sempre as meninas) tem LCA, ficamos sempre sem chão, como eu fiquei.
Escrevo, em parte, com raiva deste país pequenino em que vivemos porque no nosso caso, não temos qualquer ajuda do estado para transportar os bebés quando estão engessadas e isso fez-me uma enorme confusão. Sempre que tinha de ir às consultas ou aos hospitais tinha sempre de pedir ajuda a outro adulto e tinha sempre de infringir regras de trânsito, levanto a M. ao colo e rezar a todos os santinhos para não apanhar a polícia, ou caso apanhasse, que ao menos fosse um polícia que compreendesse a situação e não me multasse.
Por isso, se eu puder ajudar alguém com este post, já sinto que não foi em vão já que, de certeza que vou ser criticada por expor o caso assim, mas depois de ter lido num forum que frequento, várias mães em pânico porque tiveram este diagnóstico e não sabiam o que fazer e eu sempre que pude tentei ajudar prefiro fazê-lo agora, principalmente porque sei que fiz o meu melhor pela minha filha.
A Luxação Congénita da Anca, quando detectada a tempo, não é um bicho de sete cabeças. É claro que é grave, como todas as complicações. É claro que tem de se ter atenção e tentar procurar os melhores médicos, sendo que na minha opinião, na zona de Lisboa eles estão na Estefânia. Aí, só temos a agradecer a todos. Por todo o tempo que lá estivemos (e foi muito. Passei lá dias e noites, semanas até) sempre fomos muito bem tratados. Se o médico tiver dúvidas, procurem uma segunda opinião mas nunca, nunca baixem os braços.
Agradeço do fundo do meu coração e nunca poderei retribuir a ajuda que toda a nossa família nos deu nestes 16 meses. Amo-vos mais do que vocês imaginam. A todos.
Agora se me dão licença, vou dormir uma noite bem descansada